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Transplante Fecal

14 ago, 23

Atualmente, tem-se comentado muito sobre um tratamento chamado transplante fecal que, à primeira vista, causa um certo desconforto aos indivíduos, pois na maioria dos casos não sabem ao certo o que é esse tratamento e sua funcionalidade. Por isso, hoje vamos saber mais acerca deste tratamento, vem com a gente! 

 O transplante fecal, ou bacterioterapia fecal, consiste na infusão de fezes filtradas de um doador saudável no intestino de um receptor, com o objetivo de auxiliar no tratamento de uma doença específica. No entanto, para compreendermos plenamente o benefício gerado por tal tratamento, se faz necessário comentar um pouco sobre a nossa microbiota intestinal. 

 Em relação ao nosso organismo, vale relembrar que o ser humano possui microrganismos que habitam determinados locais sem causar doença, tendo uma relação benéfica com o nosso corpo – é a nossa microbiota! Ela está presente em muitos lugares do nosso organismo, na pele, nariz, boca, garganta,… Mas a maior parte habita o nosso trato gastrintestinal! A microbiota intestinal é uma das mais importantes, pois se relaciona com vários sistemas além do digestivo: realiza o metabolismo de alguns açúcares que não conseguimos digerir muito bem, produz vitaminas essenciais; ajuda no desenvolvimento e peristalse intestinal, além de ativar o sistema imunológico, ajudar na manutenção da homeostase tecidual  e proteger contra a invasão de microrganismos patogênicos – que causam doenças. Sim, porque os microrganismos que fazem parte da microbiota, em geral, não são patogênicos. Então, quando um microrganismo patogênico chega nesse local, já habitado por vários microrganismos, tem que conseguir ganhar deles na competição por lugar e nutrientes – fica bem mais difícil, né?!

Mas, às vezes, essa relação harmônica pode sofrer um desequilíbrio, chamado de disbiose, e pode estar associado a várias doenças, não necessariamente gastrointestinais – por exemplo, desordens metabólicas e problemas autoimunes. Uma vez que muitas patologias podem acometer o equilíbrio intestinal, se fazem necessários artifícios para evitar consequências mais sérias devido a essas desordens. Nesse sentido, a restauração da microbiota através do transplante fecal se tornou uma estratégia terapêutica muito importante para doenças que têm relação com a disbiose intestinal. 

O material é coletado de um doador saudável e é devidamente tratado, antes de ser transplantado. A infusão pode ocorrer por sonda nasogástrica, nasoduodenal, via colonoscopio, por enema ou por cápsula. No entanto, na maioria dos casos, os pacientes realizam uma colonoscopia durante a qual o médico responsável introduz pequenas quantidades de fezes liquefeitas e filtradas no cólon no paciente.

Sendo assim, apesar de o transplante fecal parecer algo estranho e sem sentido à primeira vista, sua aplicabilidade e importância para o tratamento de casos que envolvam  disbiose são muito benéficas. Uma doença infecciosa que vem sendo tratada desta forma já há algum tempo é a colite pseudomembranosa, causada por Clostridioides difficile. Esta doença acomete indivíduos que sofrem terapia antimicrobiana por tempo prolongado, geralmente associada a períodos longos de internação hospitalar. Essa antibioticoterapia extensa acaba por reduzir muito a microbiota intestinal e favorece a doença causada por esta bactéria. Até ao surgimento da terapia fecal, os pacientes sofriam recorrências da doença; hoje em dia, esse tratamento permite a recuperação completa e sem reincidências.

É importante ressaltar que o transplante fecal vem como uma terapia alternativa ao uso de antibióticos, sendo utilizada em casos específicos onde o antimicrobiano não apresenta efeito terapêutico. Nem toda doença pode ser tratada desta forma, mesmo que não exista antimicrobiano eficaz devido à resistência bacteriana. Apesar da sua inegável eficácia, muitos estudos ainda são necessários e estão sendo realizados para que se reduza, cada vez mais, os riscos deste tipo de terapia.

Então, vamos sempre nos lembrar de que manter a nossa microbiota saudável, com boa alimentação, atividade física e, principalmente, sem medicamentos desnecessários, é imprescindível para a saúde de todos nós!

 

 

Autor: Nathan Corrêa

Revisora: Peixoto de Albuquerque

 

 

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