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Descarte consciente de medicamentos

Poluição hormonal: feminização em espécies de vida aquática e anfíbios

3 mar, 21

Quem nos acompanha, a esta altura, já sabe que os produtos farmacêuticos podem causar diversos danos no ambiente. Dentre os principais produtos que causam desequilíbrios ambientais temos diferentes tipos de hormônios, dos quais os estrógenos são fonte de maior preocupação, porque são eliminados naturalmente através da urina e, em conjunto com o descarte incorreto, acabam poluindo o ambiente.

Estrogênios são hormônios naturalmente produzidos, derivados do colesterol e biologicamente ativos. Podem também ser sintéticos, como os presentes em anticonceptivos e medicamentos de reposição hormonal. Apesar de as concentrações dessas substâncias presentes na água serem consideradas baixas para os seres humanos, já são suficientes para gerar desequilíbrios na vida selvagem.  Basicamente, estes hormônios podem entrar na corrente sanguínea das espécies aquáticas e dos anfíbios, e uma das consequências mais observadas nos últimos anos tem sido a feminização de diversos destes animais.

Os primeiros estudos envolvendo desreguladores endócrinos, mais especificamente as substâncias estrógenas, iniciaram na década de 90, no Reino Unido. Peixes “machos femininos” foram analisados e descobriram que havia a presença de uma proteína essencialmente feminina – chamada gema – que é produzida em resposta à presença de estrogênio. Como foram encontradas altas concentrações da proteína em peixes machos, que não produzem este tipo de hormônio, novos estudos vieram em busca das razões envolvidas neste achado. Observaram, então, que os “machos femininos” habitavam regiões próximas a estações de tratamento de esgoto e que o fenômeno tem forte relação com a presença de resíduos de contraceptivos orais na água, levando os machos a desenvolverem características fisiológicas femininas. Desta forma, foi comprovado que os estrogênios perturbam a fisiologia dos peixes e afetam o desenvolvimento reprodutivo por feminilizar os peixes machos. Consequentemente, essas elevadas concentrações de estrogênio causam uma redução considerável na biomassa de peixes, podendo interromper a cadeia alimentar aquática.

Outro estudo, do Institute for Genomic Biology (IGB) em Illinois, nos Estados Unidos e da Universidade de Wroclaw, na Polônia, constatou não apenas a ocorrência desse fenômeno em anfíbios como o sapo, mas ainda a atrofia dos seus órgãos masculinos. Como o próprio nome já diz, os anfíbios (vida dupla) vivem tanto na terra, quanto na água – e é neste ambiente onde se reproduzem. Sendo assim, acabam também expostos aos efeitos do hormônio estrogênio. Compararam os efeitos da substância presente nos anticoncepcionais orais, o etinilestradiol, em três diferentes espécies de sapos, e concluíram que pode ocorrer uma feminilização genética de 15% a 100% dos machos. Segundo os cientistas, a longo prazo, essas mudanças podem acarretar na redução da população desses animais, por impedirem a reprodução das espécies.

Os estrogênios por si só permanecem pouco tempo no ambiente, contudo devido ao alto índice de urbanização e à soma dos estrogênios naturais e sintéticos, estes são constantemente renovados no esgoto e na água de abastecimento. Assim, continuam intervindo no organismos desses animais, contribuindo para a poluição hormonal e consequente declínio global das espécies afetadas. Por esse motivo, é extremamente importante que continue ocorrendo o descarte correto desses medicamentos, a fim de minimizar, cada vez mais, as suas concentrações na água.

Referências:

https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/10/141017_remedios_natureza_pu

https://espacoecologiconoar.com.br/anticoncepcional-na-agua-esta-transformando-sapo-em-sapa/

https://exame.com/tecnologia/anticoncepcional-na-agua-esta-transformando-sapo-em-sapa/

https://www.ecodebate.com.br/2014/10/20/poluicao-farmaceutica-impacto-de-remedios-na-natureza-faz-peixes-machos-ficarem-femininos/#:~:text=Stumper%20estava%20certo%3A%20estudos%20posteriores,um%20efeito%20sobre%20os%20peixes.

http://www.meioambientenews.com.br/conteudo.ler.php?q[1%7Cconteudo.idcategoria]=25&id=13432

https://www1.folha.uol.com.br/fsp/1994/9/11/mais!/37.html

Autora: Luana Ribeiro
Revisores: Isabela Pierre, Vladimir Pedro, Luiza Sardinha e Júlia Albuquerque

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