O fato de enfrentarmos uma doença nova, causada por um agente novo do qual ainda não temos total conhecimento, traz um certo medo para a população. A ausência de um protocolo de tratamento e a forma da doença contribuem para o aumento dessa angústia, bem como as características epidemiológicas e clínicas do novo surto. A alta capacidade de transmissão do vírus e a existência de casos com manifestações clínicas graves – como a rápida evolução do quadro, necessidade de internação e uso de ventilação mecânica – ajudaram a instaurar o terror. 

Com o objetivo de conter a pandemia, muitos estudos ao redor do mundo vêm sendo realizados a fim de que se entenda melhor os mecanismos de ação do vírus no organismo humano e, assim, traçar uma estratégia de tratamento específica, eficaz e segura. Alguns avanços já podem ser notados, como a corrida para a produção de uma vacina e de alguns estudos com resultados positivos para medicamentos já conhecidos. Como exemplos, estão a hidroxicloroquina e a cloroquina, que já são usados para o tratamento de lúpus, artrite e malária. No entanto, os resultados não se mostraram 100% eficazes, e a cloroquina tem muitos efeitos adversos, além de interagir com uma ampla variedade de outros medicamentos, e também com alguns alimentos e álcool.

Como já abordamos em nosso site no texto “Cloroquina – de doença órfã para uma possível cura”, as notícias dos avanços na busca pelo tratamento podem fazer com que a população – com medo da COVID-19 – vá para as farmácias a fim de adquirir os medicamentos numa espécie de auto tratamento, sem auxílio ou indicação de nenhum profissional de saúde. 

O estudo de Gautret et al. (2020), realizado com uma população infectada por COVID-19 no sul da França, mostra a eficácia do uso de hidroxicloroquina e, principalmente, sua associação com o antibiótico azitromicina em um período de 6 dias para o tratamento de pacientes cujo diagnóstico para o vírus foi positivo. 

Entretanto, os EUA registraram o segundo caso de intoxicação por cloroquina no mundo durante a pandemia: um casal tentou realizar o tratamento da COVID-19 com este medicamento, resultando na morte do marido e na internação da esposa. 

Já no Brasil, é possível observar o esgotamento desses medicamentos, o que é um sinal de alerta, em especial se somado aos casos conhecidos em outros países. A ANVISA, em nota técnica, declara que “para a inclusão de indicações terapêuticas novas em medicamentos, é necessário conduzir estudos clínicos em uma amostra representativa de seres humanos, demonstrando a segurança e a eficácia para o uso pretendido”. Determina também, como medida de prevenção, que a hidroxicloroquina e a cloroquina são medicamentos de controle especial. Assim, o ministério da Saúde declarou que iniciará tratamento com cloroquina apenas sob supervisão médica em casos graves, por entender que é uma alternativa existente para aumentar as chances de salvar as vidas destes pacientes.

Então, como os resultados dos estudos ainda são preliminares, são necessários mais testes para comprovar a eficácia dos fármacos e suas combinações. Sendo assim, no contexto de pandemia da COVID-19, com opções limitadas de tratamento, a prevenção para a população em geral é o caminho mais seguro: a higiene das mãos é a medida de profilaxia mais indicada, e a automedicação NÃO é indicada nos casos de infecção.