ACE2 ou CD147: o que a malária tem em comum com o coronavírus?
Atualmente, as possíveis alternativas que os cientistas buscam para combater o coronavírus é impedir sua multiplicação ou estimular o sistema imune — o sistema de defesa humano. Porém, um grupo de cientistas vem explorando outro alvo: barrar a entrada do vírus na célula, passo essencial para sua reprodução.
Já foi descoberto que a família dos coronavírus possui quatro proteínas em sua superfície, levando à teoria de vários possíveis pontos de ligação com nossas células. Os coronavírus possuem proteínas especializadas ao redor do envelope viral, chamadas de “spike” graças à sua forma pontiaguda. Essas proteínas se ligam a receptores específicos de nossas células para que os vírus possam invadí-las. O SARS-CoV-2, graças às proteínas spike, consegue se ligar à proteína “ACE2” presente em nossas células. Até agora, acreditava-se que a “ACE2” era um bom alvo de tratamento; no entanto, Ke Wang e colaboradores encontraram outros possíveis caminhos de entrada do COVID-19 nas células.
A proteína spike que se liga ao ACE2, encontrada no SARS-CoV-2, já havia sido descoberta em outro vírus de sua família, o SARS. Devido a essa semelhança o grupo testou um outro alvo também já conhecido do SARS, denominado “imunoglobulina CD147”:. Esse alvo foi confirmado após testes in vitro onde conseguiram bloquear a propagação do vírus em células humanas agindo nessa imunoglobulina além de também confirmarem com outros testes a importância dela para a entrada do vírus nas células, ou seja: o SARS-CoV-2 também possui uma proteína spike que usa a imunoglobulina CD147 como porta de entrada.
Esse alvo também é um alvo para tratamento de uma outra doença bem conhecida pelos brasileiros, a malária. Portanto, bloqueadores dessa imunoglobulina já existem e podem ser estudados de uma nova forma, utilizando um medicamento já conhecido e disponível no mercado para o tratamento de uma nova doença. Os cientistas chineses fazem ensaios clínicos acreditando que esta seja uma rota mais lógica, uma vez que aparenta menos efeitos colaterais do que os bloqueadores de ACE2.
Referências:
https://socientifica.com.br/2020/03/21/segunda-porta-para-o-coronavirus-foi-encontrada-nas-celulas-humanas/
https://nplus1.ru/news/2020/03/05/cryo-ACE2
Wang K, Chen W, Zhou YS, Lian JQ, Zhang Z, Du P, et al. (2020). “SARS-CoV-2 invades host cells via a novel route: CD147-spike protein”. bioRxiv (preprint)
Autores: Letícia Oliveira
Revisores: Vladimir Pedro e André Almo
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