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Descarte consciente de medicamentos

Saúde Única – Abordando uma perspectiva preventiva e saudável

12 jun, 21

Saúde Única é uma abordagem múltipla que preza a associação tripla da saúde humana, animal e ambiental. Nela, esses três pilares são indissociáveis, com problemas e soluções sendo analisados de forma conjunta nas 3 esferas. Não é para menos, já que os humanos, animais e o ambiente interagem entre si desde sempre. Portanto, para que esse olhar possa ser alcançado, é necessário o multiprofissionalismo nos debates relacionados à temática.

“A saúde única é uma abordagem colaborativa, multissetorial e transdisciplinar — trabalhando nos níveis local, regional, nacional e global — com o objetivo de alcançar resultados de saúde ideais, reconhecendo a interconexão entre pessoas, animais, vegetais e seu ambiente compartilhado” (CDC 2018, tradução livre do autor)

A interação entre essas três esferas tem sido, frequentemente, produtiva. No entanto, quando ocorrem atividades descontroladas em qualquer uma das esferas, estas levam a um desequilíbrio que resulta em danos – instantâneos ou a longo prazo. Isso pode ser explicado pelo esquema da gangorra, só que nesse caso, com 3 partes. Quando as esferas têm o mesmo peso, nenhuma parte da gangorra desce ou sobe, mantendo um equilíbrio. Agora, caso uma dessas esferas tenha um peso diferente das outras, perde-se esse equilíbrio e surgem os danos. Não basta estar com a saúde humana em dia enquanto as outras duas não estão, ou o contrário, até porque se trata de uma via de mão dupla, ou melhor, tripla…

No âmbito dos descuidos humanos para com o meio ambiente e com os animais podemos citar inúmeros casos; um deles é o descarte incorreto de medicamentos — falado amplamente pelo nosso projeto — que gera danos  “classificados” de acordo com o tipo de substância. Os problemas decorrentes desse descarte podem variar desde o emergência de bactérias resistentes, devido ao estabelecimento de um ambiente de pressão seletiva favorável para as bactérias pelo descarte incorreto de antibióticos, até a alteração da fisiologia normal de animais, devido ao consumo exacerbado dessas substâncias, bem como a contaminação de solo e água, no caso dos danos ao ambiente. Esses três configuram um problema gravíssimo de saúde pública. Agora, o que nós temos a ver com isso?

Bom, essa situação forma um ciclo, o que também confirma a união indissociável dessas partes. Em casos de solo e água contaminados, a vegetação sofre prejuízo e, por sua vez, os animais, o que resulta na baixa produtividade animal e em danos para os humanos, haja vista que, além do consumo de vegetais, muitos ainda consomem inúmeros alimentos de origem animal. Além disso, em casos mais específicos, como doenças, podemos voltar a retratar a questão da resistência bacteriana, bem como o surgimento de patógenos emergentes – como o atual cenário da epidemia das arboviroses (dengue, zika e chikungunya), no Brasil, devido ao desequilíbrio das partes.

Sabe-se que cerca de 60 % dos patógenos conhecidos e 75% dos patógenos emergentes são ao menos potencialmente zoonóticos, o que significa que é possível a transmissão entre humanos e animais. E, refletindo sobre esta questão: se essas doenças conhecidas e as emergentes são zoonóticas, isto é, relacionam-se a dois dos três pilares da saúde única, porque não tratar e/ou tomar medidas preventivas nessa perspectiva multissetorial?

Existe, no cenário global, uma união entre diferentes órgãos, como a Organização Mundial de Alimentação e Agricultura, a Organização Mundial da Saúde e a Organização Mundial da Saúde Animal (FAO-OIE-WHO), um programa de vigilância que considera os três pilares da saúde única na tomada de decisões e na avaliação de algumas situações. Essa união tripartite possui diversos materiais publicados nessa área, tendo como um exemplo, a vigilância, por parte da Organização Mundial da Saúde, da bactéria  Escherichia coli produtora de ESBL – Beta Lactamases de Espectro Estendido, que são enzimas capazes de degradar antibióticos beta lactâmicos – frequentemente utilizados.

Dessa forma, é inegável a importância da avaliação conjunta, sob a perspectiva dos três pilares, na tomada de decisão sobre temas acerca de saúde pública – ou seja, na perspectiva de Saúde Única. Somente assim poderá ser possível a elucidação de casos que, momentaneamente, são tidos como insolucionáveis, considerando que a abordagem dos mesmos está sendo feita separadamente.

Referências:

Importance of a One Health approach in advancing global health security and the Sustainable Development Goals – Rev. Sci. Tech. Off. Int. Epiz., 2019, 38 (1), 145–154. J.R. Sinclair

https://jornal.usp.br/atualidades/descarte-incorreto-de-medicamentos-pode-contaminar-o-meio-ambiente/

https://www.saude.mg.gov.br/cer/story/9819-descarte-irregular-de-medicamentos-causa-impactos-a-saude-e-ao-meio-ambiente

WHO integrated global surveillance on ESBL-producing E. coli using a “One Health” approach: implementation and opportunities. Geneva: World Health Organization; 2021. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.

Global antimicrobial resistance surveillance system (GLASS) report: early implementation 2020. Geneva: World Health Organization; 2020. Licence: CC BY-NC-SA 3.0 IGO.

Autor: Arthur Willkomm
Revisores: Luana Ribeiro, Isabela Pierre, Vladimir Pedro, Luiza Sardinha e Júlia Albuquerque

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