Microplásticos no ambiente aquático e a disseminação da resistência bacteriana
Estudos recentes relataram a importância tanto de um descarte correto de plásticos, quanto de uma estratégia de tratamento mais adequada e eficaz pelas estações de tratamento de água municipais. Essa mudança foi motivada pelos resultados desses estudos, os quais indicaram o favorecimento da disseminação de genes de resistências entre bactérias presentes na estrutura dos chamados microplásticos . Mas qual a relação entre os microplásticos e a disseminação de resistência? Bom, isso se dá pelo fato de os microplásticos estarem presentes na água e servirem de suporte para as bactérias, facilitando a disseminação de resistência.
Os microplásticos são partículas plásticas de até 5 mm de tamanho que, devido a descartes incorretos, podem acabar caindo em regiões de fluxo constante de água, que acabam sendo drenadas para as estações de tratamento. Nessas regiões, esses microplásticos servem como superfície para a adesão desses microrganismos. As fontes dos microplásticos podem ser classificadas como primárias ou secundárias. As primárias ocorrem pela produção dos plásticos já em seu tamanho micro e as secundárias resultam da degradação de plásticos maiores, como sacolas e embalagens – inclusive algumas embalagens primárias de medicamentos que são feitas de plástico.
Uma vez aglomeradas nessa nova superfície, as bactérias formam biofilmes (segundo o estudo, esse processo é induzido, principalmente pela espécie Novosphingobium pokkalii) e, pela presença da substância chamada de “lama” ativada – apresenta genes de resistência a antibióticos – possibilitam a troca gênica entre as bactérias presentes nesse novo substrato. Um ponto importante de ressaltar é o fato de que se sabe da existência dos microplásticos, mas não se tem um processo de remoção eficaz deles, falhando na interrupção do processo de transferência de resistência. Além disso, outra questão relevante é que era esperado uma concentração suficiente para a indução de resistência e que os microplásticos servissem somente como estrutura de suporte. Entretanto, observou-se que essas micro partículas suspensas na água podem auxiliar diretamente na absorção dos genes de resistência presentes tanto nessa “lama” ativada, quanto no biofilme formado.
As principais espécies bacterianas encontradas nessa superfície e que se beneficiam desse processo foram Raoultella ornithinolytica e Stenotrophomonas maltophilia, relacionadas com processos infecciosos no trato respiratório dos humanos. Como agravante, observa-se que o microambiente favorece a passagem de genes de resistências (principalmente associados a plasmídeos) entre espécies bacterianas de linhagens diferentes, também conhecido como transferência horizontal de genes, o que potencializa o processo.
Referências:
https://www.medicalnewstoday.com/amp/articles/microplastic-waste-creates-hotspots-of-antibiotic-resistant-bacteria
https://www.arocha.org/pt/projects/microplasticos/
Pham, D., Clark, L., & Li, M. (2021). Microplastics as hubs enriching antibiotic-resistant bacteria and pathogens in municipal activated sludge. Journal Of Hazardous Materials Letters, 2, 100014. doi: 10.1016/j.hazl.2021.100014
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