Descoberta no Ártico: fármacos e impactos ambientais
Em um estudo recente, pesquisadores do SINTEF (Instituto Norueguês de Tecnologia), do Instituto Polar Norueguês e do Centro Universitário em Svalbard, fizeram a coleta de amostras de crustáceos no território ártico da Noruega. O projeto, denominado PharmArctic, tem como principal objetivo analisar as marcas que nós, seres humanos, deixamos no meio ambiente ao descartar o lixo e quais seus impactos no futuro das regiões árticas.
As pesquisas são realizadas através do estudo em crustáceos, que são excelentes bioindicadores, visto que a filtração é uma das principais formas de alimentação destes animais em ambientes aquáticos e os torna bastante sensíveis à contaminação. Como estão presentes em diversos níveis tróficos, têm grande importância ecológica, podendo levar ao evento chamado bioacumulação – o acúmulo de substâncias recalcitrantes ao longo da cadeia alimentar.
Nas amostras coletadas foram encontrados diversos fármacos em concentrações variadas nos animais, como o ibuprofeno e diclofenaco, ambos anti-inflamatórios. A descoberta do ibuprofeno não foi algo que gerou alarde no meio científico, já que é muito utilizado e demora a se decompor no meio ambiente. Entretanto, sua alta concentração em uma região tão isolada e pouco habitada foi alarmante, bem como a presença de antidepressivos – por serem menos utilizados. Além destes fármacos, antibióticos também foram encontrados nos crustáceos.
Em outra região da Noruega, 100 vezes mais populosa, foi realizado um estudo semelhante que encontrou uma concentração de fármacos equivalente ou inferior ao que foi descoberto no PharmArctic!
Ainda é desconhecido o nível de tolerância das espécies animais estudadas em relação a estes compostos, assim como pouco se sabe sobre as concentrações desses medicamentos e a exposição a que o ecossistema ártico é submetido. Porém, uma das principais justificativas para que haja essa alta concentração de fármacos é a falta de tratamento de esgoto – o sistema de descontaminação foi instalado apenas em 2018. Assim, ainda são necessários estudos para identificar essa diferença de concentração antes e depois do tratamento.
Entretanto, como já falamos anteriormente em outros textos (como em Junho Ambiental: esgoto e resistência bacteriana, 30/Jun/20), a retirada de substâncias químicas só é eficiente em determinados tipos de tratamentos, excessivamente caros e que não são amplamente implementados. Desta forma, ainda que o tratamento tenha sido implantado, pode não ser eficaz na redução do impacto ambiental; e, em se tratando de bioacumulação, o ser humano acaba também sendo alvo da contaminação quando se alimenta dos animais aquáticos.
Lembre-se de sempre fazer o descarte correto dos seus medicamentos vencidos e/ou em desuso. Além das inúmeras evidências em locais populosos, estes estudos na região ártica são claros exemplos de que, mesmo locais isolados e pouco habitados são negativamente impactados.
Referências:
https://revistagalileu.globo.com/Um-So-Planeta/noticia/2021/02/antidepressivos-e-analgesicos-sao-encontrados-em-crustaceos-no-artico.html
https://phys.org/news/2021-02-antidepressants-painkillers-crustaceans.html
https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/historia-hoje/cientistas-encontram-alta-taxa-de-drogas-em-crustaceos-no-artico.phtml
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