Combate à Dengue no Brasil: Entendendo os Medicamentos e Suas Reações
Em pleno ano de 2024, a dengue continua a representar um desafio de saúde pública no Brasil, exigindo esforços contínuos de combate e prevenção. Como uma arbovirose, a Febre da Dengue é uma doença causada por um Flavivírus chamado Vírus da Dengue (DENV) e que é transmitida por vetores; no caso de centros urbanos, o mosquito Aedes aegypti. É uma doença que ocorre em áreas tropicais e subtropicais, relacionadas à presença do agente vetor; a manifestação clínica pode ocorrer de forma assintomática ou sintomática, variando de formas brandas a graves. O principal tratamento é suporte do paciente; entretanto, como a sintomatologia envolve dores de cabeça e musculares, utilização de medicamentos desempenha um papel crucial no tratamento dos sintomas e no curso da doença. Mas como são selecionados esses medicamentos e quais são suas reações?
Ao selecionar medicamentos para o tratamento da Dengue, os pesquisadores e órgãos reguladores levam em consideração as características específicas da doença, os sintomas predominantes e os potenciais riscos associados ao uso de certos fármacos. Por exemplo:
- Risco de Complicações Hemorrágicas: devido à natureza da Dengue, que pode causar trombocitopenia, que é o baixo número de plaquetas, e distúrbios de coagulação que podem levar a eventos hemorrágicos, certos medicamentos, como os que contêm ácido acetilsalicílico (aspirina) e ibuprofeno, podem aumentar o risco de complicações hemorrágicas e, portanto, devem ser evitados.
- Necessidade de Alívio Sintomático: considerando que a Dengue é uma doença viral que geralmente causa febre e dores musculares intensas, os medicamentos selecionados devem ser eficazes no alívio desses sintomas, contribuindo para o conforto e bem-estar dos pacientes.
- Administração Adequada em Diferentes Grupos Populacionais: os medicamentos aprovados para o tratamento da Dengue devem ser seguros e eficazes em diferentes grupos populacionais, incluindo crianças, idosos, mulheres grávidas e pessoas com condições médicas subjacentes.
No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) desempenha um papel fundamental na avaliação e aprovação de medicamentos para uso contra a Dengue. Essa seleção é realizada com base em estudos clínicos que demonstram a eficácia e segurança dos fármacos em questão. Deste modo, podem ser utilizados:
- Analgésicos e Antitérmicos:
- Dipirona (Metamizol): é um medicamento com propriedades analgésicas (alívio da dor), antipiréticas (redução da febre) e anti-inflamatórias. No entanto, é importante ter em mente que o uso de dipirona no tratamento da dengue pode ser controverso em algumas regiões devido a preocupações com segurança. Em certos países, como os Estados Unidos, a dipirona não é amplamente recomendada devido ao risco de efeitos colaterais graves, como agranulocitose (diminuição acentuada dos glóbulos brancos).
- Paracetamol (Acetaminofeno): é frequentemente o analgésico e antitérmico de escolha no tratamento da dengue devido à sua eficácia no alívio da febre e das dores musculares. O paracetamol é considerado mais seguro em casos de Dengue, porque não tem efeitos significativos sobre a função plaquetária ou a coagulação do sangue, mesmo em doses terapêuticas. No entanto, o paracetamol deve ser usado com cautela e nas doses recomendadas, pois o uso excessivo pode levar a danos no fígado, além dos danos que já podem ser causados pela própria doença. Portanto, é essencial seguir as instruções de dosagem e evitar a automedicação.
- Terapias de Reposição de Líquidos:
- Soluções Intravenosas (Soro Fisiológico): em casos como a Dengue Grave ou Dengue Hemorrágica, pode ser necessário administrar terapias intravenosas para corrigir a desidratação e prevenir o choque. As soluções intravenosas contêm uma combinação de fluidos e eletrólitos para restaurar o equilíbrio hidroeletrolítico do corpo.
- Medicamentos Específicos para Complicações:
- Transfusão de Plaquetas: em casos de Trombocitopenia Grave, em que os níveis de plaquetas estão perigosamente baixos, pode ser necessária a transfusão de plaquetas para prevenir ou tratar sangramentos graves.
- Suplementação de Fatores de Coagulação: em casos de coagulopatia (deficiências na coagulação) associada à Dengue, pode ser necessário administrar suplementos de fatores de coagulação para corrigir os distúrbios de coagulação e prevenir complicações hemorrágicas.
- Medicamentos Antieméticos:
- Metoclopramida: em alguns casos, especialmente quando há sintomas gastrointestinais como náuseas e vômitos, podem ser prescritos medicamentos antieméticos como a para aliviar esses sintomas e prevenir a desidratação.
- Ondansetrona: é utilizado para reduzir náuseas e vômitos. Em casos de Dengue, onde os sintomas como náuseas e vômitos podem ocorrer, a ondansetrona pode ser prescrita para ajudar a aliviar esses sintomas e prevenir a desidratação. É importante notar que o medicamento não trata a Dengue em si, mas sim ajuda a gerenciar os sintomas associados, melhorando o conforto do paciente.
Além disso, considerando que a doença é caracterizada por uma redução no número de plaquetas (trombocitopenia) e distúrbios de coagulação, o uso de anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) pode aumentar significativamente o risco de sangramento e outras complicações hemorrágicas. Por consequência, medicamentos como aspirina, diclofenaco, naproxeno e ibuprofeno, que são da classe dos AINEs, inibem a função das plaquetas e interferem na coagulação do sangue, aumentando o tempo de sangramento, devendo, então, ser evitados.
Associadamente, os corticoides não são recomendados como tratamento principal para a dengue, devido aos riscos potenciais de agravamento da infecção, mascaramento de sintomas, aumento do risco de sangramento e efeitos colaterais adversos. É importante ressaltar que os antibióticos não são utilizados no tratamento direto da doença, pois a dengue é causada por um vírus e não por bactérias. No entanto, podem ser prescritos em casos de complicações bacterianas associadas à doença viral.
Em relação às reações e precauções relacionadas à Dengue, embora esses medicamentos sejam geralmente seguros quando usados conforme prescrito, todos eles podem estar associados a reações adversas em alguns pacientes. Por exemplo, relembrando o caso do paracetamol que em doses elevadas pode causar danos ao fígado, enquanto as soluções intravenosas podem estar associadas a complicações como infecções locais ou reações alérgicas. Por outro lado, é importante considerar precauções especiais ao prescrever medicamentos para certos grupos de pacientes, como crianças, idosos, mulheres grávidas e pessoas com condições médicas subjacentes. Em alguns casos, pode ser necessário ajustar a dose ou escolher um medicamento alternativo para garantir a segurança e eficácia do tratamento.
Em suma, o tratamento da Dengue geralmente se concentra no manejo dos sintomas, repouso, hidratação adequada e monitoramento cuidadoso para detectar complicações. Em associação, o combate à doença no Brasil envolve não apenas medidas de prevenção e controle de vetores, mas também a utilização adequada de medicamentos no tratamento dos sintomas, buscando sempre orientação médica. A seleção criteriosa e o monitoramento das reações são fundamentais para garantir a eficácia e segurança do tratamento, contribuindo assim para o manejo eficaz dessa doença desafiadora.
Referências:
http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-16731999000400002
https://www.scielo.br/j/ea/a/7FKpQj7MLZ7WbcGtfccxZrd/
https://www.scielo.br/j/rsbmt/a/LgrVR5dqcXfp9QhFwSzYHZg/
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/dengue_aspecto_epidemiologicos_diagnostico_tratamento.pdf
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/funasa/dengue_manejo_clinico.pdf
https://saude.es.gov.br/Media/sesa/Aedes%20aegypti/Manejo%20Dengue%EF%80%A2Chikungunya%20Espirito%20Santo.pdf
Autora: Louise Teixeira
Revisores: Julia Peixoto de Albuquerque, Arthur Willkomm Kazniakowski e Luana Ribeiro
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