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Descarte consciente de medicamentos

Parte 2 – 9 meses de pandemia: como andam os tratamentos farmacológicos?

10 dez, 20

Com o avanço da pandemia no Brasil e o aumento dos casos, o uso racional dos medicamentos continua sendo um assunto que necessita ser cada vez mais divulgado, visto que a lista de terapias medicamentosas contra a COVID-19 é extensa. É observado que diversos fármacos estão sendo utilizados até como forma preventiva da doença, o que traz diversas consequências tanto para nós humanos quanto para o meio ambiente. Na semana passada foi publicada por nós a primeira parte dos medicamentos que estão sendo pesquisados e utilizados no tratamento da COVID-19. Hoje, trazemos a segunda parte destes.

  • Ivermectina

Este antiparasitário acabou se tornando bem conhecido no Brasil por ser intitulado como a “nova cloroquina”. A Ivermectina é um dos diversos compostos que foi capaz de inibir o SARS-CoV-2 in vitro. Os resultados no tratamento de pacientes foram conturbados, e o principal artigo a seu favor foi removido. No entanto, essa publicação fez com que o medicamento fosse recomendado extensamente em países latinoamericanos para o tratamento da COVID-19, o que foi condenado pela sede regional da Organização Mundial da Saúde pelo seu uso indevido. No entanto, um ensaio em julho — realizado na Flórida — apontou para uma redução na mortalidade e que novos estudos deveriam ser feitos antes de qualquer conclusão fosse tomada. Atualmente, diversos experimentos se encontram em andamento ou são planejados, mas todos ainda estão em fases de teste e não há estudos conclusivos. Lembrando sempre para nunca utilizar os medicamentos de forma indevida e sem recomendação; além disso, a FDA lançou uma nota oficial alertando para a não utilização da ivermectina de uso animal por seres humanos.

Referências:

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53494836

https://www.the-scientist.com/news-opinion/surgisphere-sows-confusion-about-another-unproven-covid19-drug-67635

https://documentcloud.adobe.com/link/track?uri=urn%3Aaaid%3Ascds%3AUS%3Ae82f3612-107e-45ec-a68e-99fb7fc78b7c#pageNum=1

https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.06.06.20124461v2

https://covdb.stanford.edu/page/covid-review/#additional.host-targeting.compounds

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7290143

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7129059

https://www.fda.gov/animal-veterinary/product-safety-information/fda-letter-stakeholders-do-not-use-ivermectin-intended-animals-treatment-covid-19-humans

  • Vitaminas C e D

As vitaminas são as candidatas mais recentes ao tratamento da doença. Existem atualmente cerca de 6 ensaios clínicos para vitamina C intravenosa em pacientes graves e diversos ensaios para a vitamina D oral e seus metabólitos; nesse caso, tanto para a prevenção quanto para o tratamento da doença. Desses, apenas a vitamina D possui conclusões parciais, nas quais foi encontrada uma associação entre a deficiência desse composto e a severidade da doença, com altos índices de hospitalização e mortalidade. Interessantemente, num estudo piloto, a vitamina D foi indicada para tratamento em conjunto com outros medicamentos emergenciais, muitos já citados anteriormente, diminuindo a ida dos pacientes ao cuidado intensivo e reduzindo o risco de morte. Apesar de poucos voluntários, os resultados foram tão positivos que foi possível ver a diferença estatística entre quem recebeu a vitamina e quem recebeu apenas o tratamento padrão. No demais, esses estudos ainda estão em fase preliminares e, embora promissores, não devemos nunca buscar o tratamento por conta própria, o consumo incorreto de vitaminas pode causar diversos problemas para o nosso corpo.

Referências:

https://clinicaltrials.gov/ct2/results?cond=COVID-19&term=vitamin+C&cntry=&state=&city=&dist=&Search=Search

https://clinicaltrials.gov/ct2/results?cond=COVID-19&term=vitamin+D&cntry=&state=&city=&dist=

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7398646

https://doi.org/10.1080%2F10408398.2020.1841090

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7456194

  • Azitromicina

Interessantemente, em nossa lista, nas alternativas de combate a esse vírus temos um antibiótico. Estudos recentes identificam esse fármaco como um agente terapêutico de amplo espectro. Entretanto, vários estudos comprovam sua eficácia imunomoduladora, além de atuar em diferentes pontos da replicação viral ‘in vitro’. A azitromicina vem sendo usada em tratamento contra outras infecções virais respiratórias e, no momento, estão sendo realizados vários ensaios clínicos com o objetivo de averiguar sua eficácia contra a COVID-19, apesar de já ter se mostrado ineficaz quando em conjunto com a cloroquina e hidroxicloroquina.

Referências:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7102549

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7144823

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7267640

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7434625

  • Lopinavir/ritonavir

Esse medicamento combinado para o tratamento de HIV tinha dados promissores contra SARS-CoV-1; contudo, sua eficácia contra a COVID-19 foi rapidamente descartada para o tratamento de casos severos.

Referências:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7144823

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7121492

  • Interferon beta (IFN-β)

Essa proteína foi utilizada principalmente em conjunto com outros fármacos, como o  lopinavir/ritonavir; em conjunto, foi capaz de reduzir a carga viral, aliviar os sintomas e reduzir a chamada “tempestade de citocinas” — não foram demonstrados efeitos em seu uso isolado. Em novembro uma pesquisa apontou que essa terapia adjuvante reduziu tanto o tempo de internação, quanto a mortalidade.

Referências:

https://www.theguardian.com/science/2020/mar/19/prospects-treatment-coronavirus-drugs-vaccines

https://www.thelancet.com/journals/lanres/article/PIIS2213-2600(20)30511-7/fulltext

https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1567576920323304?via%3Dihub

https://www.cnbc.com/2020/03/27/who-officials-enroll-first-patients-from-norway-and-spain-in-historic-coronavirus-drug-trial.html

https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.10.15.20209817v1

  • Sarilumab

Esse anticorpo desenvolvido para o tratamento de artrite reumatoide foi um dos novos membros de pesquisa para o tratamento, mas foi rapidamente descartado devido à falta de eficiência no tratamento dos sintomas.

Referências:

https://www.bostonglobe.com/2020/09/01/business/sanofi-halts-tests-arthritis-drug-treating-covid-19/

https://www.sanofi.com/en/media-room/press-releases/2020/2020-09-01-07-00-00#:~:text=The%20incidence%20of%20adverse%20events,reviewed%20publication%20later%20this%20year.

  • Tocilizumab

Esse anticorpo imunossupressor também foi desenvolvido para o tratamento de artrite. Ele foi utilizado mais extensamente que o Sarilumab e incluído nos protocolos de tratamento na China para o tratamento da COVID-19. Esse medicamento inicialmente demonstrou efetivo também na Itália, com diversas instituições lançando ensaios clínicos para averiguar seus efeitos. Atualmente seu uso está sendo associado a problemas no fígado, os quais ainda não estão definidos como relacionados ao medicamento ou à doença. Contudo, até junho, nenhuma evidência demonstrou sua efetividade, e em outubro uma pesquisa concluiu que seu tratamento não era efetivo na prevenção da intubação ou da morte de pacientes hospitalizados moderadamente doentes.

Referências:

https://www.reuters.com/article/us-health-coronavirus-china-roche-hldg/china-approves-use-of-roche-arthritis-drug-for-coronavirus-patients-idUSKBN20R0LF

https://www.ilmessaggero.it/italia/coronavirus_farmaco_artrite_ultime_notizie_news_napoli-5109045.html

https://www.swissinfo.ch/eng/covid-19_who-and-roche-launch-trials-of-potential-coronavirus-treatments/45630498

https://doi.org/10.1002%2Fhep.31487

https://news.yale.edu/2020/08/06/strong-link-found-between-abnormal-liver-tests-and-poor-covid-19-outcomes

https://www.roche.com/media/releases/med-cor-2020-07-29.htm

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2028836

https://www.thelancet.com/journals/lanrhe/article/PIIS2665-9913(20)30313-1/fulltext

Com o avanço da pandemia e um futuro ainda incerto — a europa acabando de voltar ao lockdown devido a segunda onda de infecção — diversas iniciativas, fomentos e incentivos para acelerar a burocracia para novos compostos vem surgindo, como:

  • International Solidarity and Discovery Trials (OMS – Mundo)
  • Randomised Evaluation of COVid-19 thERapY (RECOVERY – Reino Unido)
  • Adaptive COVID-19 Treatment Trial (ACTT – EUA)

Neles, foi observado se alguma das drogas reduzem a mortalidade, se os medicamentos reduzem o tempo de internação do paciente, como os tratamentos afetam a necessidade de ventilação ou manutenção em terapia intensiva em pessoas com pneumonia induzida por COVID-19, e se esses medicamentos podem ser usados para minimizar a infecção por COVID-19 em profissionais de saúde e pessoas com alto risco de desenvolver doenças graves. Concomitantemente, há diversos grupos como a IBM, NASA, Google, Amazon e outros, que ajudam essas iniciativas com pesquisas auxiliadas por computadores fazendo simulações que buscam os fármacos e compostos eficazes contra a doença. Nesse contexto, tudo aponta para que o primogênito seja uma possível vacina.

Referências:

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22553881/

https://pubs.rsc.org/en/content/chapter/9781782622345-00001/978-1-78262-234-5

https://www.cnet.com/news/sixteen-supercomputers-tackle-coronavirus-cures-in-us/

https://covid19-hpc-consortium.org/

https://www.worldcommunitygrid.org/research/opn1/overview.do

https://www.recoverytrial.net/news/update

https://www.clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT04280705

https://www.who.int/emergencies/diseases/novel-coronavirus-2019/global-research-on-novel-coronavirus-2019-ncov/solidarity-clinical-trial-for-covid-19-treatments

Autor: Vladimir Pedro
Revisores: André Almo, Luiza Sardinha, Isabela Pierre, Arthur Willkomm e Júlia Albuquerque

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