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Descarte consciente de medicamentos

Junho Ambiental: o Descarte de Antibióticos

2 jun, 20 | 0 Comentários

Nesta semana, início do mês de junho, comemoramos a Semana do Meio Ambiente e, ao longo do mês, apresentaremos uma série de postagens falando sobre as inúmeras consequências que o uso irracional de antibióticos pode ter em diversos âmbitos, o impacto ambiental e como isso pode refletir na saúde humana. Para isso, em nosso primeiro texto, definiremos primeiro o que é antibiótico e faremos uma explanação geral sobre seus efeitos no ambiente.

Os antibióticos, conceitualmente falando, são um grupo de substâncias naturalmente produzidas por organismos vivos – bactérias, fungos… – que têm atividade sobre microrganismos. Entretanto, apesar de o termo ter surgido para se referir apenas a este grupo de medicamentos, sua utilização como sinônimo para qualquer medicamento de ação antibacteriana levou à ampliação do seu significado. Sendo assim, hoje, o termo “antibiótico” é utilizado para referir a medicamentos utilizados para prevenir e tratar infecções bacterianas, sejam produzidos de forma natural, sintética ou semi-sintética (Organização Mundial de Saúde – OMS).

De acordo com a RDC 20 de 2011 da ANVISA, a venda de antibióticos em farmácias só deve ser feita sob prescrição de profissionais legalmente habilitados, como médicos, médicos veterinários e dentistas, seguindo alguns critérios. Além disso, a prescrição precisa conter a dosagem (quantidade total do medicamento administrada pelo paciente por vez) e a posologia, a qual informará os intervalos entre as administrações e o tempo do tratamento. Apesar disso, muitos antibióticos são utilizados de maneira inadequada e, ainda por cima, descartados incorretamente, como já mencionamos em nosso texto “5 de maio – Dia Nacional do Uso Racional de Medicamentos”.

O uso racional de antibióticos, assim como de outros fármacos, é fundamental para a manutenção da saúde humana. Contudo, seu uso indiscriminado tem sido um forte aliado ao aumento da resistência bacteriana contra estes medicamentos. A resistência bacteriana é um evento que ocorre naturalmente nas populações de bactérias, mas que pode ser ampliado pelo uso do antibiótico, o qual funciona como um agente seletivo. De que forma? 

No ambiente, existem bactérias sensíveis e bactérias naturalmente resistentes; de uma forma simplista, a presença de antibiótico no ambiente elimina as bactérias sensíveis e seleciona as resistentes, deixando apenas estas no ambiente. Assim, se são bactérias que causam doenças, nós acabamos por selecionar as populações que são resistentes e, consequentemente, reduzimos as opções de tratamento para as mesmas. Claro que não é uma relação tão direta, mas ao longo do tempo, as pequenas concentrações destas drogas que são lançadas no ambiente acabam causando este efeito.

No Brasil, assim como mencionamos no texto “Impactos negativos do Descarte Incorreto de Medicamentos”, a poluição do solo e dos sistemas hídricos pode ser bem perigosa. Os sistemas das Estações de Tratamento de Esgoto (ETE) não garantem que os antibióticos, assim como outros fármacos, sejam removidos, além de não avaliar a exata concentração dessas substâncias quando liberadas no meio ambiente. Essa questão ambiental, com o despejo de efluentes hospitalares e das indústrias farmacêuticas, o descarte incorreto de medicamentos em pias ou vasos sanitários, além da utilização de antibióticos nos sistemas de criação de animais de produção, aumentam ainda mais o risco de alterações ecológicas irreversíveis e favorecem o aumento da resistência bacteriana e, até mesmo, o surgimento da multirresistência (resistência a 3 ou mais antibióticos de diferentes classes).

A multirresistência bacteriana, bem como a resistência simples, é um dos principais desafios de saúde pública mundial, sendo considerada pela OMS há 20 anos como um “problema ecológico global”. Como está associada a vários fatores, necessita de ações coordenadas para que seja contida: desde os pacientes receberem medicamentos apropriados para suas condições clínicas até tomarem as dosagens adequadas às suas necessidades individuais, durante o período adequado e nos horários prescritos; estas são condutas essenciais. Logo, aceitar recomendações de quaisquer pessoas que não sejam profissionais da saúde, induzindo à automedicação, bem como tomar antibióticos que foram utilizados em tratamentos anteriores, podem contribuir para essa crise na saúde, por intensificar a proliferação de bactérias resistentes ao medicamento. 

A maior parte dos tratamentos é empírica, ou seja, é prescrita sem a confirmação laboratorial de que a bactéria responsável pela infecção seja sensível ao medicamento em questão. Além disso, como forma de reduzir a morbidade da doença e levar à melhora mais rápida do paciente, por vezes são receitados antibióticos muito fortes para tratar infecções comuns, que poderiam ser resolvidas com antibióticos mais simples. O velho “tiro de canhão para matar uma formiga”.

Assim, a resistência bacteriana vai aumentando em níveis alarmantes, em todo o mundo, principalmente em países onde os antibióticos são vendidos sem prescrição médica. Portanto, com finalidade de minimizar os danos ambientais, o descarte dos antibióticos deve ser feito da seguinte forma:

  1. Devolver às farmácias a embalagem primária do medicamento (a que tem contato direto com o mesmo, seja cartela – blister – ou frasco de vidro)
  2. Devolver o próprio medicamento, caso haja sobras (tanto líquido, quanto comprimido)
  3. Devolver caso estejam vencidos ou com danificações na embalagem

Além disso, a ANVISA também possui uma lista de postos de coleta credenciados, os quais poderão ser localizados para realizar o descarte correto dos antibióticos, no local mais próximos de sua residência.

Referências:

https://www.ecycle.com.br/149-descarte-de-medicamentos#:~:text=A%20Pol%C3%ADtica%20Nacional%20de%20Res%C3%ADduos,final%20sem%20risco%20de%20contamina%C3%A7%C3%A3o.

https://pfarma.com.br/noticia-setor-farmaceutico/legislacao-farmaceutica/586-rdc-20-2011-anvisa-antimicrobianos.html

https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-06832010000300002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

https://www.amigosdanatureza.org.br/publicacoes/index.php/forum_ambiental/article/download/1406/1428

Autor: Luiza Sardinha
Revisores: Isabela Pierre, Vladimir Pedro, André Almo e Júlia Albuquerque

 

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