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Estudo retrospectivo: a eficácia e risco da cloroquina

26 maio, 20 | 0 Comentários

(08/05/2020) Atualização sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate da COVID-19

Como já falamos em nosso site sobre os estudos realizados com cloroquina (“ Estudo retrospectivo: a eficácia e risco da cloroquina”), viemos atualizar nosso último post sobre este medicamento.

Em suma, inicialmente, um estudo francês relatou eficácia elevada no uso de hidroxicloroquina associada à azitromicina para o combate da COVID-19. Em seguida, inúmeros estudos em diversos países foram publicados, demonstrando resultados positivos e negativos a respeito do uso da hidroxicloroquina e da cloroquina contra o SARS-CoV-2.

A Elsevier — uma renomada empresa de reconhecimento internacional nas áreas científica e da saúde — publicou um estudo em 20/03/2020 confirmando a associação dos medicamentos contra a infecção.

Em contrapartida, uma publicação mais recente na revista “The Lancet” (22/05/2020) relatou um estudo multinacional com aproximadamente 96 mil pacientes, demonstrando um maior risco de morte e complicações de pacientes tratados com cloroquina ou hidroxocloroquina, associados ou não a um antibiótico. Esse resultado é compatível com diversos outros estudos menores publicados mundialmente: nos EUA, na Inglaterra, e até mesmo alguns realizados no Brasil, com resultados semelhantemente negativos quanto à eficácia desses medicamentos para o tratamento da COVID-19. Essa publicação e sua repercussão fizeram com que a OMS interrompesse os estudos e as pesquisas sobre esses medicamentos para o tratamento da COVID-19.

Contudo, após a publicação, a revista “The Lancet” fez uma nota na qual dizia que esse estudo seria removido devido a críticas de que ele e seus resultados não eram confiáveis ou padronizados. Após essa declaração, a OMS voltou atrás e notificou a retomada dos estudos e das pesquisas. Lembramos que o uso da hidroxicloroquina e dos outros medicamentos contra a COVID-19 ainda estão em fase de testes, não havendo, portanto, nenhuma terapia específica ou comprovada para seu tratamento até então.

(26/05/2020) Na semana passada, a revista The Lancet publicou um estudo envolvendo a técnica de meta-análise, que é uma técnica estatística desenvolvida especialmente para comparar os resultados de diferentes estudos, visando integrar e combinar os mesmos. Este estudo, através da meta-análise, buscou dados do uso de hidroxicloroquina e cloroquina, associados ou não a um macrolídeo, em pacientes confirmados com COVID-19. Macrolídeos são antimicrobianos muito utilizados em infecções respiratórias como pneumonias, sinusites e faringites. O estudo incluiu dados de 671 hospitais de 6 continentes, no período de dezembro de 2019 a abril de 2020.

Foram analisados 96.032 pacientes com COVID-19 hospitalizados neste período. Eles possuíam idade média de 53,8 anos dos quais 46,3% eram mulheres; 66,9%, brancos; 9,4%, negros; e 14,1% eram de origem asiática. O continente mais analisado foi a América do Norte, e as comorbidades mais observadas foram colesterol alto, hipertensão e diabetes. 

O critério de inclusão utilizado foi: em até 48 horas de diagnóstico positivo para COVID-19, pacientes hospitalizados incluídos em um dos quatro grupos de tratamento – cloroquina isolada, cloroquina mais antibiótico, hidroxicloroquina isolada ou hidroxicloroquina mais antibiótico. Os pacientes que não receberam nenhum desses tratamentos formaram o grupo controle. Foram excluídos da análise os pacientes que receberam esses tratamentos após as 48 horas do diagnóstico, pacientes que receberam o tratamento durante ventilação mecânica ou pacientes que utilizaram Remdesivir antiviral como forma de tratamento. 

Como resultado do estudo, comparando as mortalidades dos quatro grupos de tratamento com o grupo controle, percebeu-se que enquanto a taxa de mortalidade dos pacientes controle foi de 9,3%, a mortalidade do grupo que recebeu hidroxicloroquina isolada foi de 18%; hidroxicloroquina mais antibiótico foi de 23,8%; cloroquina isolada foi de 16,4% e cloroquina mais antibiótico foi de 22,2%. Logo, os quatro grupos de tratamento tiveram um maior risco de mortalidade quando comparados aos pacientes que não foram submetidos à cloroquina ou hidroxicloroquina.

Além das taxas de mortalidades observadas, também foram feitas comparações entre os grupos de tratamento e o grupo controle, analisando a frequência de arritmias ventriculares. O aumento dessa frequência foi observado nos grupos de tratamento que utilizaram cloroquina ou hidroxicloroquina, independente da associação com o antibiótico. Assim, a conclusão dos autores foi que o uso destas substâncias no tratamento da doença em questão não só pode levar a efeitos colaterais, mas também aumenta o risco de morte dos pacientes.

Após a publicação deste estudo, a OMS suspendeu os testes com a cloroquina e a hidroxicloroquina de pesquisas coordenadas pela organização com cientistas de 100 países. A suspensão será mantida até a reavaliação dos medicamentos para o tratamento da COVID-19. A OMS, que já havia declarado ser contra o uso amplo da cloroquina como forma de tratar a doença, ressalta que a mesma só deve ser usada dentro de ensaios clínicos e em pacientes com doenças autoimunes ou malária.

Referências:

www.portaldeprefeitura.com.br/2020/04/12/estudo-frances-comprova-a-eficacia-da-cloroquina-em-917-dos-pacientes-testados/

https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2020/05/08/covid-19-maior-estudo-ate-agora-aponta-que-hidroxicloroquina-e-ineficaz.htm

www.pebmed.com.br/hidroxicloroquina-novo-estudo-com-96-mil-pacientes-nao-encontra-beneficios-para-covid-19/

www.pebmed.com.br/lancet-e-nejm-retiram-do-ar-estudos-relacionados-a-covid-19/

https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(20)311806/fulltext#seccestitle150

https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2020/06/04/the-lancet-publica-nota-de-retratacao-sobre-estudo-com-cloroquina-e-hidroxicloroquina-para-covid-19.ghtml

https://g1.globo.com/podcast/o-assunto/noticia/2020/06/05/o-assunto-204-cloroquina-estudos-usos-e-disputas.ghtml

www.thelancet.com/action/showPdf?pii=S0140-6736%2820%2931180-6

https://www.bbc.com/news/health-52799120

https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-40422010000300035&script=sci_arttext&tlng=pt

Autor: Luiza Sardinha
Revisores: Vladimir Pedro, André Almo, Arthur Willkomm e Júlia Albuquerque

 

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