Cloroquina – De doença órfã para uma possível cura?
A cloroquina — medicamento amplamente utilizado e essencial para o tratamento de malária e doenças auto imunes como lúpus — recentemente vêm às notícias como um potencial antiviral de amplo espectro, capaz de atuar antes e após a entrada do vírus nas células. Acredita-se que além desse efeito antiviral a cloroquina possui efeitos imunes que podem ser aditivos ao seu efeito antiviral; além disso, a droga é amplamente distribuída para os órgãos do corpo após sua ingestão.
Para aqueles que querem uma resposta rápida para a pergunta: não há indicação desse medicamento para o tratamento de COVID-19; embora o seu uso compassivo em pacientes esteja sendo promissor, esse medicamento não foi aprovado no Brasil ou em outros países para a virose e não há nenhuma pesquisa o indicando. Além disso, esse medicamento é essencial para outras doenças (como lúpus) e seu uso indiscriminado pode causar reações adversas graves, como cardiomiopatia, comprometimento da retina, podendo levar à cegueira.
Embora haja estudo com número insuficiente de amostra para alguma conclusão definitiva, o uso da cloroquina está associado a redução/desaparecimento da carga viral, foi observado também a redução da febre, melhora na imagem tomográfica e progressão retardada da doença em pacientes com COVID-19. A administração de cloroquina não apenas bloqueia a invasão e replicação do coronavírus, mas também atenua a tempestade de citocinas. Esses mesmos trabalhos enfatizam a necessidade de determinar sua eficácia e as consequências a longo prazo associadas com o tratamento, as quais são sempre abordadas e alertadas por diversos especialistas.
Como de costume, a recomendação e a automedicação podem ser mais perigosas do que a própria doença, com dois casos já divulgados de intoxicação por cloroquina na Nigéria; portanto, o acompanhamento médico é essencial. Tal contexto deve ser sempre reforçado, pois a situação caótica e a atitude de chefes de estado têm levado à apreensão da comunidade médica, e doenças que têm a cloroquina como única forma de tratamento sofrem com uma possível exaustão do medicamento. No Brasil, após um fenômeno de corrida às compras, a falta do medicamento em diversas regiões do país levou a Anvisa a restringir a venda do medicamento apenas para portadores de receita médica.
Referências:
GAUTRET, P. et al. Hydroxychloroquine and Azithromycin as a treatment of COVID-19: preliminary results of an open-label non-randomized clinical trial. medRxiv, p. 2020.03.16.20037135, 20 mar. 2020.
WANG, M. et al. Remdesivir and chloroquine effectively inhibit the recently emerged novel coronavirus (2019-nCoV) in vitroCell ResearchSpringer Nature, , 1 mar. 2020.
Acessado em 22/03/2020 às 23:00 horas – https://www.nytimes.com/2020/03/20/health/coronavirus-chloroquine-trump.html
Acessado em 22/03/2020 às 23:00 horas – https://www.bloomberg.com/news/articles/2020-03-21/nigeria-reports-chloroquine-poisonings-after-trump-praised-drug
Acessado em 22/03/2020 às 23:00 horas – https://veja.abril.com.br/saude/coronavirus-anvisa-restringe-venda-de-hidroxicloroquina-e-cloroquina/
Acessado em 22/03/2020 às 23:00 horas – https://oglobo.globo.com/sociedade/coronavirus-bolsonaro-diz-que-exercito-vai-ampliar-producao-de-cloroquina-1-24320671
Acessado em 22/03/2020 às 23:00 horas – https://www.statnews.com/2020/03/19/a-drug-maker-recently-doubled-the-price-of-chloroquine-but-in-response-to-the-coronavirus-pandemic-its-cutting-it-in-half/
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Acessado em 22/03/2020 às 14:00 horas – https://academic.oup.com/jac/advance-article/doi/10.1093/jac/dkaa114/5810487
Acessado em 22/03/2020 às 13:00hs
https://eluar.org.br/wp-content/uploads/2020/03/Nota-Hidroxicloroquina-ABCF.pdf
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